segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Mundo Pós-aniversário


Conheci Lionel Shriver ao ler Precisamos falar sobre o Kevin e, assim como no romance anterior, a história é densa, inteligente e carregada de fragmentos psicológicos do personagem principal.
Em O Mundo Pós-aniversário, a autora traça duas vidas paralelas, alternadas em capítulos, sobre a história de Irina McGovern. Em uma vida, a protagonista abandona sua vida de casada e completamente segura para se entregar a uma paixão arrebatadora com um jogador de sinuca. Na outra, apesar das faíscas pelo jogador, Irina não joga tudo para o alto e continua a viver com o homem que há dez anos faz parte de sua vida.
O livro é uma excelente reflexão das consequências de nossas escolhas e de que não vivemos em um mundo perfeito. Independente do caminho que decidamos seguir, sempre haverá coisas boas e coisas ruins e o que fará a diferença é a nossa maneira de lidar com cada obstáculo.  Há ainda uma das frases mais marcantes do livro: “o momento é tudo”, que mostra que, muitas vezes, temos que nos render aos desejos e fazer o que é certo. Se este momento passar, não haverá segunda chance e sua vida será completamente diferente se você optar pela estrada da direita ou da esquerda. E o que é pior: não há uma placa sinalizando qual é o caminho certo a seguir.
Lionel Shriver cria uma história em que nos mostra que nunca estamos satisfeitos com nossas escolhas e que, por melhor que seja a nossa vida, sempre buscamos entender o “e se tivéssemos feito diferente?”.
A leitura não é fácil e não é um livro para ser devorado em uma sentada, entretanto você consegue se colocar no lugar da personagem e quer ler cada vez mais e mais.
É sensacional a maneira que a autora constrói o paradoxo da dúvida, trabalhando os medos, vontades, ansiedades, alegrias e tristezas que os seres humanos são capazes de sentir. A reflexão criada nas páginas de O Mundo Pós-aniversário são bárbaras e, no final, o que importa é entender – e aceitar – que tudo que fizemos foi em busca da nossa felicidade e que problemas são comuns, o que não é comum é a maneira como vamos encará-los e transformá-los em mais um aprendizado.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Entrevista com o Vampiro


ATENÇÃO: Esta resenha contém spoilers. Caso não queira conhecer partes da história, não continue a leitura.


Comecei lendo o segundo livro das Crônicas Vampirescas, O Vampiro Lestat, para só depois ler Entrevista com o Vampiro. Não sei se isso foi melhor ou pior, só sei que foi significativo para que eu não gostasse da biografia de Louis.
O ritmo de Entrevista com o Vampiro é bem melhor que em Lestat, é mais rápido e fácil, entretanto como o livro é escrito basicamente em diálogos chega a ficar confuso em determinados momentos. Louis não é de longe um personagem tão charmoso quanto Lestat, é tão inseguro e fraco que chega a ser chato.
Mas o maior pecado de Anne Rice foi se perder na história. Parece que quando escreveu Entrevista com o Vampiro não tinha imaginado nada além para as Crônicas Vampirescas. Entendo que o primeiro livro é narrado por Louis e o segundo pelo próprio Lestat, entretanto o personagem de Lestat é completamente diferente nos livros. Não é uma questão de ponto de vista do narrador, mas sim de vampiros diferentes, com personalidades diferentes e até histórias diferentes. O próprio Armand também caminha de um extremo ao outro nos livros e, em momento algum, em Entrevista com o Vampiro, a autora menciona que Armand era apenas um adolescente quando foi transformado em vampiro. Lembro que quando li O Vampiro Lestat não tinha entendido porque no filme do Entrevista com o Vampiro, tinham colocado o Antonio Banderas que combinava com o personagem proposto. Contudo, quando li o próprio livro que originou o filme, percebi que o Antonio Banderas fazia mais sentido como o Armand de Louis, mas jamais como o Armand de Lestat.
Pequenos detalhes passam despercebidos quando as sagas são grandes. Mas um “detalhe” é uma coisa, uma “história” é completamente diferente. Há vampiros que supostamente foram feitos pelo Lestat neste primeiro volume que não são sequer mencionados no livro seguinte. Quando Anne Rice decide fazer um segundo volume para a saga sustentando a história de Lestat, tinha que pelo menos manter a base original de Entrevista com o Vampiro.
Todavia, caso achem desnecessário aprofundar em personagens secundários e aceitem que não tem problema em não mencioná-los na biografia de Lestat, a história da morte de Claudia no Teatro dos Vampiro poderia ao menos ser meramente semelhante. No O Vampiro Lestat, Rice menciona os fatos superficialmente, enquanto a história é contada no primeiro livro, mas o “superficial” tinha que, pelo menos, encaixar na história completa, o que definitivamente não acontece.
Em livros – bons livros, pelo menos – coisas não são colocadas aleatoriamente, tudo tem um por que. Se, para finalizar o primeiro volume, Anne Rice deu a entender que o jornalista ia procurar Lestat, no livro seguinte ele tinha que ter ido procurar Lestat. O Lestat poderia tê-lo matado e encerrar a participação do personagem por aí, mas não simplesmente esquecê-lo.
Esquecer parece-me que é o ponto forte na transição entre os dois volumes: onde foi o ódio do Louis pelo Lestat? Como ele perdoa, diz sentir saudades e vira amigo de Lestat sendo que passou O Entrevista com o Vampiro inteiro odiando-o?
Não li os demais volumes da série. Não sei o que Anne Rice colocou nos outros oito livros, só sei que me decepcionei com a autora e com a história. Não vejo como qualquer uma destas coisas possa ser proposital. Repito: não são versões diferentes, são historias e pessoas completamente distintas. Só espero que quando ler O Vampiro Armand não descubra que ele tem uma terceira personalidade que virá de encontro com tudo que ela publicou antes.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Stephen King


Stephen King adora escrever sobre escritores. Se o personagem principal não é propriamente o escritor, provavelmente alguém bem próximo a ele será. Talvez escrever histórias de terror sobre escritores seja extremamente mais fácil, pois afinal não há nada mais “estranho” do que um cara que a profissão é contar histórias, não é?
Mas independente de como o protagonista resolve ganhar a vida, os milhões de livros de King e os milhares de filmes adaptados de seus livros são, em sua grande maioria, muito bons.
Não estou nem perto – aliás estou muito longe – de ler pelo menos a metade das obras do autor, mas com exceção de Casa Negra, não há realmente um dos livros que eu já tenha lido que seja chato e maçante. 
O Talismã, escrito em parceria com Peter Straub, por exemplo, conta a história de um menino de 12 anos numa jornada pelos Estados Unidos para salvar a vida da sua mãe que tem câncer. Apesar das mais de 500 páginas do livro, em letras minúsculas que só Stephen King consegue, o livro é para ser devorado. Você consegue entrar na pele do personagem, torcer por ele ou sentir medo com ele, além de sofrer quando coisas acontecem.
Outra obra fantástica, mas que foge do estilo terror, é À Espera de um Milagre, que também tem uma das melhores adaptações que eu já vi para o cinema. Com exceção de Harry Potter, este livro foi o que mais chorei no final de tanto que King consegue nos transportar para dentro da história. No mesmo gênero, o conto Um Sonho de Liberdade originou um filme excelente que merece ser visto.
No gênero terror psicológico, Jogo Perigoso conta a história de uma mulher algemada na cama, no escuro, sozinha em casa, com o marido morto no chão e todas as peças que nossa mente nos prega em situações assim. É simplesmente genial e deve ser leitura obrigatória.
E, claro, um dos mais conhecidos: O Iluminado. Que, para o cinema, trouxe como protagonista Jack Nicholson. Um dos livros mais medonhos que já li e que, caso eu estivesse sozinha em casa, eu não chegava nem perto.
Entretanto, 1408, filme adaptado de um conto de Stephen King que é “apenas bacana”, mas que gerou um filme terrível. O qual, eu definitivamente não recomendo.
São mais de 60 livros que originaram mais de 40 filmes. It, Celular, Conta Comigo, A Janela Secreta, Carrie, Christine, Cemitério Maldito, Love – A História de Lindsey, Insônia, O Nevoeiro, a série Torre Negra... enfim, uma infinidade de histórias e milhões de páginas que devem ser lidas por fãs de ficção – ou por qualquer um. Afinal, um cara com a pachorra de escrever essa quantidade de livros, ter mais da metade adaptado para cinema e séries e ainda ser conhecido em mais de 40 países realmente merece nosso respeito.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Vampiro Lestat

ATENÇÃO: Esta resenha contém Spoilers. Caso não queira conhecer passagens do livro, não continue a leitura.

O Vampiro Lestat é o segundo volume das Crônicas Vampirescas de Anne Rice. Não posso dizer se é melhor ou pior que o seu percussor, Entrevista com Vampiro, porque ainda não o li. É o próximo livro da minha lista.
O livro é a história de Lestat, um homem transformado em vampiro no século XVIII e que após viver sua vida, resolve dormir por alguns anos, acordando no ano de 1984 e decidindo se tornar um rockstar. Nas trilhas do sucesso, o vampiro escreve sua biografia para revelar ao mundo toda a verdade por trás dos vampiros.
A obra de Anne Rice é fantástica. A história é extremamente bem escrita. Te prende do começo ao fim e pertence aqueles gêneros de livros que fazem com que você queira ler mais e mais e não tenha a mínima ideia de que horas é, o que importa é devorá-lo.
Entretanto, talvez este até seja o charme do livro, Lestat é um personagem escroto. Um personagem completamente sem limites, que não tem ideia das consequências e apesar de dizer “que quer amor”, só se importa com ele mesmo.
Exemplo: quando Gabrielle pede para ele não transformar o Nicki que não vai dar certo, o que ele faz? Transforma-o. Afinal é o que ele quer e é o que importa. Quando Marius conta a história Daqueles que Devem Ser Conservados e pede para ele jamais mencionar para alguém tudo que foi dito, o que ele faz? Não apenas conta, como escreve um livro falando tudo o que sabe. Quando Marius fale pra ele não transformar ninguém que não tenha aproveitado uma vida completa que isto pode causar grandes danos, o que ele faz? Transforma uma menina de seis anos, Claudia, em um vampiro. Entre tantas outras situações que só servem para demonstrar seu egoísmo.
Mas o pior de tudo é que ele sempre consegue o que quer sem grandes prejuízos no final. Alguém sempre aparece para livrar a cara dele e ninguém jamais o repreende. O máximo que falam é “Ah, Lestat, você é impossível”, mas sem intenção de dar bronca, apenas querem mostrar sua falta de limite como se fosse algo legal.
Apesar da escrotidão em 90% dos casos, Lestat é um vampiro apaixonante. Você consegue se apaixonar pela sua história e, com algumas ressalvas óbvias, até pela sua maneira de viver. A sua paixão pela “vida” e sua mania de contestar tudo que lhe é falado são características que não passam despercebidas. 
O Vampiro Lestat é sedutor, é elegante, é inteligente, é charmoso e é a personificação do que um bom vampiro deve ser. O livro de Anne Rice merece ser lido e apreciado e Lestat, como todo personagem que preze, consegue que o amamos e o odiamos na mesma proporção.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ler...

Existem certos livros que quando você escolhe lê-los, realmente não espera que ele vá surpreendê-lo. Por outro lado, também existem aqueles que você tem certeza que será a melhor leitura do ano e o livro não passa de um grande desapontamento.
Da mesma maneira, autores que não estão na lista dos mais vendidos e muito menos fazem parte dos clássicos, também rendem boas surpresas e boas leituras, muitas vezes melhores do que aqueles que encabeçam o top 20 das livrarias.
Para os livros serem bons precisam de uma boa história, uma boa escrita e serem capazes de te fazer lê-los sem notar que o tempo está passando e que já são sete horas da manhã, você não dormiu e a única coisa que importa é conhecer o final da história. 
Ler não é apenas ser transportado para outros lugares e todos os clichês que campanhas pró-leitura pregam por aí. Ler é conhecer, se divertir, imaginar. É sofrer com um personagem e torcer por outro. É reler cinco vezes o mesmo parágrafo para ter certeza que o autor matou seu personagem favorito e se indignar quando percebe que é realmente verdade. Ler vai além do que podemos escrever sobre. Gostar de ler é uma escolha. É mais do que um hábito, é um dom. E, infelizmente, parece que muitos poucos foram contemplados com este poder.